sexta-feira, 26 de outubro de 2012


Feminicídio: a morte de mulheres em razão de gênero


  



Cynthia Semíramis, para a Revista Fórum




Em 1993, Diana Russell e Jill Radford editaram o livro Femicide, que se tornou referência para os estudos de violência de gênero. Marcela Lagarde posteriormente diferenciou os termos femicídio (a morte de mulheres em geral, uma espécie de feminino de homicídio) e feminicídio, referente às mortes de mulheres causadas e legitimadas por um sistema patriarcal e misógino.



Feminicídio é algo que vai além da misoginia, criando um clima de terror que gera a perseguição e morte da mulher, a partir de agressões físicas e psicológicas dos mais variados tipos, como abuso físico e verbal, estupro, tortura, escravidão sexual, espancamentos, assédio sexual, mutilação genital e cirurgias ginecológicas desnecessárias, proibição do aborto e da contracepção, cirurgias cosméticas, negação da alimentação, maternidade, heterossexualidade e esterilização forçadas.



Em todos esses casos, o que se tem em comum é o fato de as vítimas serem mulheres, e estarem sendo coagidas a cumprir o papel que aquela sociedade destina a elas. As mulheres que não se adaptam a esse sistema (“desobedientes”, “vadias”, prostitutas, de “gênio forte”, dentre outros termos afins) perdem o direito à autonomia e à própria vida. As agressões a elas são toleradas, inclusive pelo Estado, suas mortes não são lamentadas e seus agressores não são punidos; muitas vezes, serão até glorificados. Neste ponto, vale lembrar que houve negociações para que, no primeiro aniversário da morte de Eloá, seu ex-namorado concedesse entrevistas para a televisão.



Na sociedade brasileira, as meninas são treinadas desde a infância em um modelo de feminilidade bastante restrito: devem ser bonitas, sem opiniões fortes, de comportamento (inclusive sexual) discreto quando em público e, privadamente, voltado à satisfação do namorado. O prestígio social ocorre por meio do casamento e, em menor medida, da maternidade; portanto, uma mulher que não atenda aos requisitos desse modelo de feminilidade sofrerá pressão para se enquadrar, chegando ao ponto de ser incentivada a sacrificar sua integridade física e psicológica em nome da manutenção do casamento e da família. Nesse tipo de sociedade, os feminicídios ocorrem especialmente em relação à vida familiar e aos relacionamentos afetivos, principalmente quando a mulher não deseja prosseguir com o relacionamento ou deseja ter vida profissional e financeira independe do marido.



Medo e relações de poder



Pesquisa do Ibope e do Instituto Avon indicou que um dos motivos mais fortes que levam uma mulher a não abandonar o agressor é o medo de ser morta se a relação for rompida; esse medo foi o mais citado por pessoas de menor poder aquisitivo, menor escolaridade e pessoas mais jovens. Nos processos judiciais estudados por Wânia Izumino, dos 62 casos de lesões corporais sofridas por mulheres, 51 foram cometidos por companheiros; dos 13 processos de homicídio e oito de tentativa de homicídio, só dois casos não foram cometidos por companheiros das vítimas (um deles envolveu mãe e filho, e o outro envolveu tia e sobrinho, evidentemente um conflito de caráter familiar). Pesquisa da Fundação Perseu Abramo estima que uma mulher é agredida a cada 15 segundos no Brasil, sendo que a maioria é vítima dos companheiros ou ex-companheiros.



Analisando relações de poder ligadas à violência, a professora Rita Segato (Universidade de Brasília) observa dois eixos de atuação, relacionados ao agressor, sua vítima e seus pares. No eixo vertical, ela inclui a relação assimétrica entre agressor e vítima (pois ele tem mais poder físico e simbólico que ela), enquanto, no eixo horizontal, se encontram as relações entre o agressor e seus pares, uma “irmandade masculina” na qual todos trabalham para manter a simetria de suas relações, mesmo que com isso precisem reforçar a assimetria entre agressor e vítima. Nesse sentido, a sociedade patriarcal age para que a agressão contra mulheres seja minimizada em nome do profissional famoso e respeitável, do bom trabalhador, do pai de família ou do amigo incapaz de agredir um mosquito, sendo que nenhum deles hesita em agredir física ou psicologicamente uma mulher que ele considere que está desobedecendo o modelo de feminilidade vigente e que, a seus olhos, torna-se merecedora de violência.



Em outros países da América Latina há também muitos feminicídios, notadamente em Ciudad Juárez (México), Guatemala, Honduras e El Salvador. Mas o enfoque é diferente, menos vinculado a relacionamentos afetivos e mais ligado à emancipação feminina e a uma disputa de poder local. O caso de Ciudad Juárez é emblemático: desde o final do Século 20, meninas e mulheres de Ciudad Juárez desaparecem ou são barbaramente violadas, mutiladas e mortas, e o Estado mexicano pouco fez para solucionar os crimes. Em 2009, a Corte Interamericana de Direitos Humanos declarou o México culpado por violar o direito à vida, integridade e liberdade pessoal de mulheres violentadas e mortas no Campo Algodonero, em Ciudad Juárez, em 2001, caracterizando a primeira condenação de um Estado por feminicídio.



Desde 2007, o México tem a Ley General de Acceso de las Mujeres a una Vida Libre de Violencia. Esta lei, assim como a Lei Maria da Penha (2006) no Brasil, demonstra que os Estados reconhecem a desigualdade de gênero que gera a violência contra as mulheres, e toma a iniciativa de combatê-la, não só com maior visibilidade e categorias específicas em relação à questão criminal, como também por meio de políticas públicas que transformem essas relações, aumentando a autonomia e a integridade física e psicológica das mulheres. Nesse sentido, pesquisa comparativa entre México e Brasil, realizada pela professora Teresa Lisboa (Universiade Federal de Santa Catarina), demonstrou que o sistema de proteção às mulheres vítimas de violência no Brasil é ainda bastante falho e incipiente, especialmente em comparação com o modelo mexicano.



A literatura sobre feminicídios é pródiga em casos como o de Eloá, mas sem o tratamento novelístico que o tornou um marco da misoginia no Brasil. A tendência dos meios de comunicação e até de algumas instituições governamentais é não dar destaque ao tema para não questionar os valores misóginos de uma sociedade patriarcal. Assim, a ação é no sentido de diluir esses crimes, considerando-os casos isolados, de caráter privado, indignos de atenção e até mesmo negando que estejam relacionados a gênero (como aconteceu recentemente no Massacre de Realengo, quando um atirador, obcecado com questões sobre virgindade e pureza, invadiu uma escola e escolheu as vítimas, matando dez meninas e dois meninos; as análises sobre o caso silenciaram sobre essa disparidade de gênero).



A discussão sobre o feminicídio ainda está se iniciando no Brasil, e há um longo caminho a ser percorrido, a começar pelo reconhecimento de que há desigualdade de gênero a ser combatida com ações direcionadas para mostrar o caráter coletivo desses crimes, e evitar seu esquecimento e banalização.



Além de desenvolver a discussão teórica sobre o feminicídio, é importante estimular manifestações públicas como a Marcha das Vadias, que questiona os estereótipos sexistas, e as manifestações contra a violência, que buscam reverter casos judiciais fadados ao esquecimento e à impunidade. Todas essas iniciativas estimulam as pessoas a identificar e combater a desigualdade de gênero, evitando que suas atitudes sejam responsáveis por patrocinar uma sociedade misógina, negando às mulheres o direito à autonomia.



* Publicado originalmente no site da Revista Fórum.

Disponível:


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

10 de outubro dia Nacional de Luta contra a Violência à Mulher




Hoje é comemorado o Dia Nacional de Luta Contra a Violência à Mulher. Essa data serve para refletirmos sobre as ações de combate aos crescentes números de agressões e homicídios contra mulheres em nosso país.
É um dia para lembrar à sociedade que é necessário denunciar qualquer tipo de abuso e agressão praticada contra as mulheres. É triste ver como os casos de violência aumentam diariamente e na maioria das vezes não são denunciados, por medo ou vergonha.

Poços de Caldas possui uma rede de atendimento e proteção às mulheres que sofrem com esses casos. Esses órgãos são responsáveis por ajudar, acolher e orientar as mulheres vítimas da violência em casa, no trabalho e em outros ambientes.

Lembrem-se que a melhor forma de combater este tipo de crime é denunciar e não deixar que a violência cale você que é mulher!
Não fique calada. Procure seus direitos e denuncie!


sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Mulheres em situação de tráfico
 
 
O tráfico de pessoas é definido no Protocolo de Palermo como “o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração.”
 
Além de realizar ações coordenadas entre os países do Mercosul, a RMAAM desenvolveu ações de coordenação para favorecer o trabalho conjunto com outros organismos do Mercosul que vem trabalhando a problemática do tráfico de pessoas. 
 
Em especial, construiu um Diagnóstico Regional sobre mulheres vítimas de tráfico com fins de exploração sexual e elaborou uma Guia Mercosul de atenção a mulheres em situação de tráfico de pessoas com fins de exploração sexual. 
 
O órgão discute uma proposta de protocolo de articulação para a atenção a mulheres em situação de tráfico internacional de pessoas. O documento será apresentado ao Grupo do Mercado Comum para sua aprovação e futura implementação. 
 
 
 
Comunicação Social 
Secretaria de Políticas para as Mulheres – SPM
Presidência da República – PR
 



OUTUBRO ROSA 2012
PROGRAMAÇÃO EM POÇOS DE CALDAS

Outubro é o mês dedicado às mulheres. Em Poços de Caldas, as atividades do Outubro Rosa , movimento mundial de combate ao câncer de mama, têm início na próxima terça-feira (2), às 18h, na Praça Pedro Sanches.
A abertura do evento contará com fala das representantes da Prefeitura e do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, além de apresentação artística.
É a quarta vez consecutiva que o município integra a campanha. Neste ano, o Cristo, no alto da Serra de São Domingos, e o Coreto, na Praça Pedro Sanches, serão iluminados em tons de rosa, como acontece com os principais monumentos de todo o país.
A intenção é que a cor diferenciada lembre as mulheres que esta é a hora de fazer seus exames anuais para prevenção do câncer de mama, a mamografia, e o preventivo do câncer de colo de útero, o Papanicolau. Durante todo o mês, como parte do evento, a Secretaria Municipal de Saúde realiza a Campanha de Prevenção ao Câncer de Mama e Colo de Útero. Os dois exames estão à disposição na rede pública de saúde, até o dia 31 de outubro. Basta procurar a unidade de saúde mais próxima de sua residência.  O preventivo é feito na hora. Já a mamografia é agendada para ser realizada no Hospital da Santa Casa.
A mamografia está disponível para mulheres a partir dos 40 anos. Já o Papanicolau é disponibilizado para todas as mulheres com vida sexual ativa, independente da faixa etária, que ainda não realizaram o exame neste ano. “Temos bastante vaga para os dois exames. É importante que as mulheres nos procurem para participar da campanha”, destaca a enfermeira do Programa Saúde da Mulher, Lucimara Costa Papi.
Em 2011, foram realizados 1.251 exames de Papanicolau e 2.368 mamografias durante a campanha. O Outubro Rosa acontece em Poços de Caldas numa parceria da Secretaria Municipal de Saúde e do Conselho Municipal da Mulher.
“A iniciativa é de grande relevância porque coloca a saúde da mulher na pauta do dia e, mais que isso, oferece mecanismos para que ela se cuide”, avalia a presidente do Conselho da Mulher, Marlene Silva. Para ela, os números alcançados pelo município na realização dos exames demonstram que a campanha vem ganhando a adesão das mulheres na cidade.
Programação
Segundo informações da Vigilância do Câncer e seus Fatores de Riscos da Vigilância Epidemiológica, haverá horário estendido de acordo com a demanda. No dia 10 de outubro, a equipe fará panfletagem na rua Assis Figueiredo, esquina com Prefeito Chagas, a partir das 13h.
No Núcleo Centro (rua Amazonas), o horário até o dia 31 de outubro será das 17h às 20h. No sábado, dia 20, o atendimento será realizado na Zona Leste e Centro-Oeste. Já no sábado, dia 21, será a vez da Zona Sul e UBS Centro.
As mamografias poderão ser agendadas pelo telefone 3697-2220, das 8h às 17h, no Programa Saúde da Mulher, que funciona no Hospital da Zona Leste.
Movimento
O Outubro Rosa foi criado em 1997, nas cidades de Yuba e Lodi, na Califórnia (EUA). O movimento se caracteriza por colorir locais públicos de rosa, cor símbolo da luta contra o câncer de mama.
Tradicionalmente, o Outubro Rosa tem sido marcado pela iluminação de prédios e monumentos em cor-de-rosa, pela pintura de muros, calçadas e bancos de praças, pela mudança de cor dos ambientes de sites de empresas e organizações e por ações de diversas naturezas que objetivam chamar atenção para a causa.