quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA EMOCIONAL



Todos os anos somos confrontados com os números divulgados por associações de apoio à vítima. Todos os anos nos sentimos chocados com o facto de haver mulheres que continuam a morrer nos braços de um cônjuge violento. Todos os anos – pelo menos na última década – ouvimos dizer que a violência não é só física e que a escalada começa quase sempre pelos abusos psicológicos. Ainda assim, as relações amorosas marcadas pelos maus-tratos continuam a existir e as campanhas de informação parecem atingir apenas aqueles que não precisam delas.

Um dos motivos por detrás da tragédia destes números está relacionado com a falta de autoconfiança e de autoestima destas mulheres. Afinal, por detrás de carreiras de sucesso e imagens imaculamente tratadas estão tantas vezes feridas emocionais profundas, que perduram no tempo e que as impedem de fazer o que tem de ser feito. Os factos são quase sempre os mesmos e em cada história só muda o nome dos protagonistas:

Os abusos acontecem dentro de casa.
O agressor nega os seus atos.
O agressor culpa a vítima (e consegue que esta se sinta culpada).
Os abusos verbais deterioram gradualmente a autoestima da vítima.

QUEM SÃO ESTES AGRESSORES?

Por incrível que possa parecer, são quase sempre:
Inseguros
Carentes
Desconfiados
Ciumentos
Controladores
Incapazes de assumir a culpa/ responsabilidade.

Como não conseguem assumir a sua insegurança, muitas vezes é difícil perceber que se sintam impotentes. Aquilo que se vê (ou aquilo que a vítima experimenta) é uma necessidade constante de exercer poder, de controlar tudo.

COMO É QUE AS VÍTIMAS CAEM NA ARMADILHA DO AGRESSOR?

Na violência emocional tudo gira em torno da comunicação e para o agressor o que importa é ganhar. As vítimas normalmente reagem às críticas/ acusações tentando explicar-se, como se o agressor estivesse realmente interessado em ouvi-las. NÃO ESTÁ. O que é que é preciso fazer?

COLOCAR UM TRAVÃO
IMPOR LIMITES
DIZER NÃO.

A maioria das vítimas procura dar resposta a estes confrontos tentando acalmar o agressor, minimizando os conflitos. Não resulta. Nunca. Os abusos vão continuar.

Quem vive numa relação marcada por abusos tende, infelizmente, a minimizar o problema. São muitos os casos de mulheres que acompanho em contexto terapêutico que relatam episódios em que o cônjuge parte objetos, bate com as portas, esmurra o volante do carro ou pontapeia cadeiras… “Não conseguiu controlar-se mas a verdade é que nunca me agrediu” – dizem tantas vezes, desculpando-os. Ignoram, por exemplo, que estes comportamentos não têm lugar noutras relações. A mesma pessoa seria incapaz de tamanha violência em contexto profissional, por exemplo.

De um modo geral, estes episódios obedecem a um padrão:
1.º - Escalada de tensão.
2.º - Comportamento violento.
3.º - Remorsos e pedidos de desculpas.
4.º - “Lua-de-mel”.

POR QUE É QUE ESTAS MULHERES AGUENTAM TANTOS ATAQUES?

Em primeiro lugar, porque acreditam que o agressor é capaz de mudar. Acreditam nas promessas. Afinal de contas, há momentos bons entre cada episódio de violência. Em segundo lugar, porque destas relações há muitas vezes crianças que a vítima ACHA que está a proteger dos danos de um divórcio. Como já tenho tentado enfatizar noutros textos, há ainda outros motivos que levam a que estas mulheres permaneçam nestas relações abusivas:

Dependência financeira.
Não ter para onde ir.
Isolamento social/ inexistência de uma rede de suporte sólida.
Medo de perder a guarda das crianças.

Como o agressor utiliza a manipulação para afastar a vítima das pessoas que a poderiam realmente proteger/ ajudar a quebrar o ciclo vicioso, esta acaba por sentir-se muitas vezes humilhada mas incapaz de reconhecer uma saída. Como se não houvesse volta a dar. Mas é possível dar a volta. E o primeiro passo é:

FALAR SOBRE O ASSUNTO.
ASSUMIR O PROBLEMA.

É quase sempre essencial abordar a questão em contexto terapêutico e, desta forma, dar início à reconstrução – sólida – da autoestima. Muitas vezes o pedido de ajuda surge antes de a mulher sair de casa, antes de dizer BASTA. As primeiras consultas decorrem num ambiente de secretismo, essencial para que ganhem a segurança suficiente para dar os passos seguintes, munindo-se nessa altura de todos os recursos à sua disposição – contando à família alargada e aos amigos, denunciando os abusos e recorrendo ao apoio judicial.

Se a pessoa que está ao seu lado insiste em fazer SEMPRE as coisas à sua maneira, tem explosões de agressividade, é rude consigo, critica a sua família e os seus amigos e/ou é excessivamente desconfiado,ESTEJA ATENTA. Estes podem ser os primeiros sinais de uma relação abusiva.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Na esfera jurídica, violência significa uma espécie de coação, ou forma de constrangimento, posto em prática para vencer a capacidade de resistência de outrem, ou a levar a executá-lo, mesmo contra a sua vontade. É igualmente, ato de força exercido contra as coisas, na intenção de violentá-las, devassá-las, ou delas se apossar.




Existem vários tipos de armas utilizadas na violência contra a mulher, como: a lesão corporal, que é a agressão física, como socos, pontapés, bofetões, entre outros; o estupro ou violência carnal, sendo todo atentado contra o pudor de pessoa de outro sexo, por meio de força física, ou grave ameaça, com a intenção de satisfazer nela desejos lascivos, ou atos de luxúria; ameaça de morte ou qualquer outro mal, feitas por gestos, palavras ou por escrito; abandono material, quando o homem, não reconhece a paternidade, obrigando assim a mulher, entrar com uma ação de investigação de paternidade, para poder receber pensão alimentícia.



Mas nem todos deixam marcas físicas, como as ofensas verbais e morais, que causam dores,que superam, a dor física. Humilhações, torturas, abandono, etc, são considerados pequenos assassinatos diários, difíceis de superar e praticamente impossíveis de prevenir, fazendo com que as mulheres percam a referencia de cidadania.



A violência contra a mulher, não esta restrita a um certo meio, não escolhendo raça, idade ou condição social. A grande diferença é que entre as pessoas de maior poder financeiro, as mulheres, acabam se calando contra a violência recebida por elas, talvez por medo, vergonha ou até mesmo por dependência financeira.



Atualmente existe a Delegacia de Defesa da Mulher, que recebe todas as queixas de violência contra as mulheres, investigando e punindo os agressores. Como em toda a Polícia Civil, o registro das ocorrências, ou seja, a queixa é feita através de um Boletim de Ocorrência, que é um documento essencialmente informativo, todas as informações sobre o ocorrido visam instruir a autoridade policial, qual a tipicidade penal e como proceder nas investigações.



Toda a mulher violentada física ou moralmente, deve ter a coragem para denunciar o agressor, pois agindo assim ela esta se protegendo contra futuras agressões, e serve como exemplo para outras mulheres, pois enquanto houver a ocultação do crime sofrido, não vamos encontrar soluções para o problema.



A população deve exigir do Governo leis severas e firmes, não adianta se iludir achando que esse é um problema sem solução. Uma vez violentada, talvez ela nunca mais volte a ser a mesma de outrora, sua vida estará margeada de medo e vergonha, sem amor próprio, deixando de ser um membro da comunidade, para viver no seu próprio mundo.



A liberdade e a justiça, são um bem que necessita de condições essenciais para que floresça, ninguém vive sozinho. A felicidade de uma pessoa esta em amar e ser amada. Devemos cultivar a vida, denunciando todos os tipos de agressões (violência) sofridas.



segunda-feira, 26 de novembro de 2012

25 de Novembro- Dia Internacional da Luta contra a Violência sobre a Mulher


No dia 25 de novembro de 1960 foram assassinadas Antonia, Minerva e Patria Mirabal, três irmãs moradoras da República Dominicana, país este, que vivia na época o regime do ditador Rafael Trujillo. As irmãs formavam o grupo Las Mariposas, grupo de oposição ao regime do ditador, sendo esta apontada a maior causa de suas mortes.
E foi em meio à luta feminista que em 1981, no 1º Encontro Feminista Latino Americano Caribenho, em Bogotá, o dia 25 de novembro foi definido como dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher.
A violência contra as mulheres assume muitas formas – física, sexual, psicológica e econômica. Estas formas de violência se inter-relacionam e afetam as mulheres desde antes do nascimento até a velhice e, o principal motivo de tal violência não é estabelecido culturalmente, por região ou país, mas sim agregado à discriminação persistente contra as mulheres, através do machismo, gerando todo o tipo de violência. E os índices da violência contra a mulher são assustadores, pois se calcula que cerca de 70% das mulheres do mundo sofrem algum tipo de violência no decorrer da vida.
Infelizmente, o Brasil é o 7° País do mundo em morte de mulheres. Só em 2011 foram 41 mil assassinatos de mulheres em todo o País e cerca de 70 mil notificações de agressões contra mulheres, sendo que estes são apenas os números alcançados a partir das denúncias feitas. Muitas das mulheres violentadas não têm se quer coragem para denunciar o agressor, este que muitas das vezes é um vizinho, tio, primo, parceiro intimo, padrasto ou seu próprio pai.
Alguns tipos de violência, como o tráfico de mulheres, cruzam as fronteiras nacionais. Os dados são que anualmente cerca de 500 mil a 2 milhões de pessoas são traficadas por ano para além da situação de mão de obra forçada e condições análogas à escravidão, a prostituição também está inclusa, com meninas e mulheres respondendo por 80% das vítimas.
A luta das mulheres, dos movimentos sociais pela conscientização do combate a todo o tipo de violência contra a mulher é árdua e constante, interpassando do espaço doméstico, até a luta pela igualdade social, respeito e garantia de vida. Um dos maiores trunfos para o movimento de mulheres apesar da luta constante para efetivação de sua aplicabilidade foi à criação da Lei Maria da Penha (11.340/06) , que “ampara” estas mulheres violentadas, enquadrando e criminalizando o autor da violação. Esta hoje é uma de nossas maiores armas no encorajamento dessas mulheres em dar o primeiro passo rumo à libertação, o de não calar-se perante a agressão.


quarta-feira, 7 de novembro de 2012




ONU aponta 241 rotas de tráfico de pessoas no país, diz senadora

Brasília - Integrante da CPI do tráfico de pessoas, a senadora Angela Portela (PT-RR) apresentou nesta segunda-feira (5) no plenário do Senado dados da ONU (Organização das Nações Unidas) que apontam a existência de 241 rotas do tráfico no país, sendo 110 relacionadas ao tráfico interno e 131 ao tráfico internacional.

A região Norte, de acordo com a senadora, tem a maior concentração de rotas, com 76 no total, seguida do Nordeste, com 69; Sudeste, com 35; 33 no Centro-Oeste e 28 no Sul do Brasil.

Ela explicou que há no país o processo completo para efetivar o tráfico, com a prática de recrutamento, transferência, transporte, alojamento ou acolhimento de pessoas para a exploração sexual, para o trabalho ou serviços forçados, de escravatura ou práticas similares à escravatura, de servidão ou de remoção de órgãos.

"Para o êxito de tal prática, recorre-se a ameaças, ao uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridades perante situações de vulnerabilidade, entrega ou aceitação de pagamentos a exploradores", lembrou.

A senadora informou que há relatos colhidos de pessoas que não precisam manter-se anônimas revelando que, no mercado do tráfico de seres humanos, "uma menina vale cerca de R$ 1,5 mil, para fins de exploração sexual, em Roraima. Se for menor de 18 anos e sem experiência no mercado do sexo, a menina vale ainda mais", acrescentou.

Disse ainda que as meninas traficadas, geralmente com idade entre 12 e 17 anos, são levadas para prostíbulos em Manaus ou para o Suriname.

Publicado no jornal Estadão SP, 05/11/2012.

http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado

sexta-feira, 26 de outubro de 2012


Feminicídio: a morte de mulheres em razão de gênero


  



Cynthia Semíramis, para a Revista Fórum




Em 1993, Diana Russell e Jill Radford editaram o livro Femicide, que se tornou referência para os estudos de violência de gênero. Marcela Lagarde posteriormente diferenciou os termos femicídio (a morte de mulheres em geral, uma espécie de feminino de homicídio) e feminicídio, referente às mortes de mulheres causadas e legitimadas por um sistema patriarcal e misógino.



Feminicídio é algo que vai além da misoginia, criando um clima de terror que gera a perseguição e morte da mulher, a partir de agressões físicas e psicológicas dos mais variados tipos, como abuso físico e verbal, estupro, tortura, escravidão sexual, espancamentos, assédio sexual, mutilação genital e cirurgias ginecológicas desnecessárias, proibição do aborto e da contracepção, cirurgias cosméticas, negação da alimentação, maternidade, heterossexualidade e esterilização forçadas.



Em todos esses casos, o que se tem em comum é o fato de as vítimas serem mulheres, e estarem sendo coagidas a cumprir o papel que aquela sociedade destina a elas. As mulheres que não se adaptam a esse sistema (“desobedientes”, “vadias”, prostitutas, de “gênio forte”, dentre outros termos afins) perdem o direito à autonomia e à própria vida. As agressões a elas são toleradas, inclusive pelo Estado, suas mortes não são lamentadas e seus agressores não são punidos; muitas vezes, serão até glorificados. Neste ponto, vale lembrar que houve negociações para que, no primeiro aniversário da morte de Eloá, seu ex-namorado concedesse entrevistas para a televisão.



Na sociedade brasileira, as meninas são treinadas desde a infância em um modelo de feminilidade bastante restrito: devem ser bonitas, sem opiniões fortes, de comportamento (inclusive sexual) discreto quando em público e, privadamente, voltado à satisfação do namorado. O prestígio social ocorre por meio do casamento e, em menor medida, da maternidade; portanto, uma mulher que não atenda aos requisitos desse modelo de feminilidade sofrerá pressão para se enquadrar, chegando ao ponto de ser incentivada a sacrificar sua integridade física e psicológica em nome da manutenção do casamento e da família. Nesse tipo de sociedade, os feminicídios ocorrem especialmente em relação à vida familiar e aos relacionamentos afetivos, principalmente quando a mulher não deseja prosseguir com o relacionamento ou deseja ter vida profissional e financeira independe do marido.



Medo e relações de poder



Pesquisa do Ibope e do Instituto Avon indicou que um dos motivos mais fortes que levam uma mulher a não abandonar o agressor é o medo de ser morta se a relação for rompida; esse medo foi o mais citado por pessoas de menor poder aquisitivo, menor escolaridade e pessoas mais jovens. Nos processos judiciais estudados por Wânia Izumino, dos 62 casos de lesões corporais sofridas por mulheres, 51 foram cometidos por companheiros; dos 13 processos de homicídio e oito de tentativa de homicídio, só dois casos não foram cometidos por companheiros das vítimas (um deles envolveu mãe e filho, e o outro envolveu tia e sobrinho, evidentemente um conflito de caráter familiar). Pesquisa da Fundação Perseu Abramo estima que uma mulher é agredida a cada 15 segundos no Brasil, sendo que a maioria é vítima dos companheiros ou ex-companheiros.



Analisando relações de poder ligadas à violência, a professora Rita Segato (Universidade de Brasília) observa dois eixos de atuação, relacionados ao agressor, sua vítima e seus pares. No eixo vertical, ela inclui a relação assimétrica entre agressor e vítima (pois ele tem mais poder físico e simbólico que ela), enquanto, no eixo horizontal, se encontram as relações entre o agressor e seus pares, uma “irmandade masculina” na qual todos trabalham para manter a simetria de suas relações, mesmo que com isso precisem reforçar a assimetria entre agressor e vítima. Nesse sentido, a sociedade patriarcal age para que a agressão contra mulheres seja minimizada em nome do profissional famoso e respeitável, do bom trabalhador, do pai de família ou do amigo incapaz de agredir um mosquito, sendo que nenhum deles hesita em agredir física ou psicologicamente uma mulher que ele considere que está desobedecendo o modelo de feminilidade vigente e que, a seus olhos, torna-se merecedora de violência.



Em outros países da América Latina há também muitos feminicídios, notadamente em Ciudad Juárez (México), Guatemala, Honduras e El Salvador. Mas o enfoque é diferente, menos vinculado a relacionamentos afetivos e mais ligado à emancipação feminina e a uma disputa de poder local. O caso de Ciudad Juárez é emblemático: desde o final do Século 20, meninas e mulheres de Ciudad Juárez desaparecem ou são barbaramente violadas, mutiladas e mortas, e o Estado mexicano pouco fez para solucionar os crimes. Em 2009, a Corte Interamericana de Direitos Humanos declarou o México culpado por violar o direito à vida, integridade e liberdade pessoal de mulheres violentadas e mortas no Campo Algodonero, em Ciudad Juárez, em 2001, caracterizando a primeira condenação de um Estado por feminicídio.



Desde 2007, o México tem a Ley General de Acceso de las Mujeres a una Vida Libre de Violencia. Esta lei, assim como a Lei Maria da Penha (2006) no Brasil, demonstra que os Estados reconhecem a desigualdade de gênero que gera a violência contra as mulheres, e toma a iniciativa de combatê-la, não só com maior visibilidade e categorias específicas em relação à questão criminal, como também por meio de políticas públicas que transformem essas relações, aumentando a autonomia e a integridade física e psicológica das mulheres. Nesse sentido, pesquisa comparativa entre México e Brasil, realizada pela professora Teresa Lisboa (Universiade Federal de Santa Catarina), demonstrou que o sistema de proteção às mulheres vítimas de violência no Brasil é ainda bastante falho e incipiente, especialmente em comparação com o modelo mexicano.



A literatura sobre feminicídios é pródiga em casos como o de Eloá, mas sem o tratamento novelístico que o tornou um marco da misoginia no Brasil. A tendência dos meios de comunicação e até de algumas instituições governamentais é não dar destaque ao tema para não questionar os valores misóginos de uma sociedade patriarcal. Assim, a ação é no sentido de diluir esses crimes, considerando-os casos isolados, de caráter privado, indignos de atenção e até mesmo negando que estejam relacionados a gênero (como aconteceu recentemente no Massacre de Realengo, quando um atirador, obcecado com questões sobre virgindade e pureza, invadiu uma escola e escolheu as vítimas, matando dez meninas e dois meninos; as análises sobre o caso silenciaram sobre essa disparidade de gênero).



A discussão sobre o feminicídio ainda está se iniciando no Brasil, e há um longo caminho a ser percorrido, a começar pelo reconhecimento de que há desigualdade de gênero a ser combatida com ações direcionadas para mostrar o caráter coletivo desses crimes, e evitar seu esquecimento e banalização.



Além de desenvolver a discussão teórica sobre o feminicídio, é importante estimular manifestações públicas como a Marcha das Vadias, que questiona os estereótipos sexistas, e as manifestações contra a violência, que buscam reverter casos judiciais fadados ao esquecimento e à impunidade. Todas essas iniciativas estimulam as pessoas a identificar e combater a desigualdade de gênero, evitando que suas atitudes sejam responsáveis por patrocinar uma sociedade misógina, negando às mulheres o direito à autonomia.



* Publicado originalmente no site da Revista Fórum.

Disponível:


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

10 de outubro dia Nacional de Luta contra a Violência à Mulher




Hoje é comemorado o Dia Nacional de Luta Contra a Violência à Mulher. Essa data serve para refletirmos sobre as ações de combate aos crescentes números de agressões e homicídios contra mulheres em nosso país.
É um dia para lembrar à sociedade que é necessário denunciar qualquer tipo de abuso e agressão praticada contra as mulheres. É triste ver como os casos de violência aumentam diariamente e na maioria das vezes não são denunciados, por medo ou vergonha.

Poços de Caldas possui uma rede de atendimento e proteção às mulheres que sofrem com esses casos. Esses órgãos são responsáveis por ajudar, acolher e orientar as mulheres vítimas da violência em casa, no trabalho e em outros ambientes.

Lembrem-se que a melhor forma de combater este tipo de crime é denunciar e não deixar que a violência cale você que é mulher!
Não fique calada. Procure seus direitos e denuncie!


sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Mulheres em situação de tráfico
 
 
O tráfico de pessoas é definido no Protocolo de Palermo como “o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração.”
 
Além de realizar ações coordenadas entre os países do Mercosul, a RMAAM desenvolveu ações de coordenação para favorecer o trabalho conjunto com outros organismos do Mercosul que vem trabalhando a problemática do tráfico de pessoas. 
 
Em especial, construiu um Diagnóstico Regional sobre mulheres vítimas de tráfico com fins de exploração sexual e elaborou uma Guia Mercosul de atenção a mulheres em situação de tráfico de pessoas com fins de exploração sexual. 
 
O órgão discute uma proposta de protocolo de articulação para a atenção a mulheres em situação de tráfico internacional de pessoas. O documento será apresentado ao Grupo do Mercado Comum para sua aprovação e futura implementação. 
 
 
 
Comunicação Social 
Secretaria de Políticas para as Mulheres – SPM
Presidência da República – PR
 



OUTUBRO ROSA 2012
PROGRAMAÇÃO EM POÇOS DE CALDAS

Outubro é o mês dedicado às mulheres. Em Poços de Caldas, as atividades do Outubro Rosa , movimento mundial de combate ao câncer de mama, têm início na próxima terça-feira (2), às 18h, na Praça Pedro Sanches.
A abertura do evento contará com fala das representantes da Prefeitura e do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, além de apresentação artística.
É a quarta vez consecutiva que o município integra a campanha. Neste ano, o Cristo, no alto da Serra de São Domingos, e o Coreto, na Praça Pedro Sanches, serão iluminados em tons de rosa, como acontece com os principais monumentos de todo o país.
A intenção é que a cor diferenciada lembre as mulheres que esta é a hora de fazer seus exames anuais para prevenção do câncer de mama, a mamografia, e o preventivo do câncer de colo de útero, o Papanicolau. Durante todo o mês, como parte do evento, a Secretaria Municipal de Saúde realiza a Campanha de Prevenção ao Câncer de Mama e Colo de Útero. Os dois exames estão à disposição na rede pública de saúde, até o dia 31 de outubro. Basta procurar a unidade de saúde mais próxima de sua residência.  O preventivo é feito na hora. Já a mamografia é agendada para ser realizada no Hospital da Santa Casa.
A mamografia está disponível para mulheres a partir dos 40 anos. Já o Papanicolau é disponibilizado para todas as mulheres com vida sexual ativa, independente da faixa etária, que ainda não realizaram o exame neste ano. “Temos bastante vaga para os dois exames. É importante que as mulheres nos procurem para participar da campanha”, destaca a enfermeira do Programa Saúde da Mulher, Lucimara Costa Papi.
Em 2011, foram realizados 1.251 exames de Papanicolau e 2.368 mamografias durante a campanha. O Outubro Rosa acontece em Poços de Caldas numa parceria da Secretaria Municipal de Saúde e do Conselho Municipal da Mulher.
“A iniciativa é de grande relevância porque coloca a saúde da mulher na pauta do dia e, mais que isso, oferece mecanismos para que ela se cuide”, avalia a presidente do Conselho da Mulher, Marlene Silva. Para ela, os números alcançados pelo município na realização dos exames demonstram que a campanha vem ganhando a adesão das mulheres na cidade.
Programação
Segundo informações da Vigilância do Câncer e seus Fatores de Riscos da Vigilância Epidemiológica, haverá horário estendido de acordo com a demanda. No dia 10 de outubro, a equipe fará panfletagem na rua Assis Figueiredo, esquina com Prefeito Chagas, a partir das 13h.
No Núcleo Centro (rua Amazonas), o horário até o dia 31 de outubro será das 17h às 20h. No sábado, dia 20, o atendimento será realizado na Zona Leste e Centro-Oeste. Já no sábado, dia 21, será a vez da Zona Sul e UBS Centro.
As mamografias poderão ser agendadas pelo telefone 3697-2220, das 8h às 17h, no Programa Saúde da Mulher, que funciona no Hospital da Zona Leste.
Movimento
O Outubro Rosa foi criado em 1997, nas cidades de Yuba e Lodi, na Califórnia (EUA). O movimento se caracteriza por colorir locais públicos de rosa, cor símbolo da luta contra o câncer de mama.
Tradicionalmente, o Outubro Rosa tem sido marcado pela iluminação de prédios e monumentos em cor-de-rosa, pela pintura de muros, calçadas e bancos de praças, pela mudança de cor dos ambientes de sites de empresas e organizações e por ações de diversas naturezas que objetivam chamar atenção para a causa.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012


O Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero inscrições prorrogadas até o dia 19 de outubro.

O Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero foi instituído em 2005 pela Secretaria de Política das Mulheres, no âmbito do Programa Mulher e Ciência , com o apoio do CNPq/MCTI, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade - SECAD/MEC, Secretaria de Educação Básica - SEB/MEC e ONU Mulheres.
Consiste em um concurso de redações, artigos científicos e projetos pedagógicos na área das relações de gênero, mulheres e feminismos e tem por objetivo estimular e fortalecer a reflexão crítica e a pesquisa acerca das desigualdades existentes entre homens e mulheres em nosso país e sensibilizar a sociedade para tais questões.
Atualmente, é ofertado a cinco categorias :
a) Categoria Estudante de Ensino Médio - redações;
b) Categoria Estudante de Graduação - artigos científicos;
c) Categoria Graduado(a), Especialista e Estudante de Mestrado - artigos científicos;
d) Categoria Mestre e Estudante de Doutorado - artigos científicos; e
e) Escola Promotora da Igualdade - projetos para as escolas de nível médio.

O Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero é o operacionalizado pelo Serviço de Prêmios do CNPq e pela SPM.
 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Medidas para frear a violência

Jornal de Brasília
17/09/2012

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Política nacional e destinação de recursos seriam aliados da mulher
A secretária executiva da secretaria de Enfrentamento à Violência contra as mulheres, Aparecida Gonçalves, afirmou que o maior desafio do País é tornar os serviços de proteção à mulher institucionalizados por legislações estaduais e municipais. Segundo ela, esse serviços não podem ser programas de um governo ou outro, mas sim de uma política nacional.
Outro ponto citado pela secretária é a destinação de recursos para esses políticas. "A Secretaria de Enfrentamento à Violência contra as mulheres, da Secretaria de Política para mulheres (SPM), tem para este ano R$ 37 milhões em recursos que são distribuídos aos estados mediante convênios". Ela afirma que os estados e municípios devem destinar recursos próprios para os serviços de combate à violência. "Eles [estados e municípios] não podem sobreviver única e exclusivamente dos recursos federais".
A rede de enfrentamento à violência contra a mulher no Brasil conta com aparatos que variam desde o recebimento de denúncias (Li-gue 180) ao abrigo de mulheres que correm risco de morte. No entanto, o número de espaço destinados à proteção e ao acolhimento das vítimas atinge menos de 10% dos municípios brasileiros. Ao todo, são 380 Delegacias Especializadas em Atendimento à Mulher (Deam).
ATENDIMENTO PRECÁRIO
A assistente técnica do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), Leila Rebouças, diz que muitas Deam funcionam de forma precária e sem equipamentos adequados ao atendimento humanizado. "Muitos profissionais não tem qualificação adequada para atender essas mulheres. Os núcleos que funcionam em delegacias normais, são os mais despreparados".
Leila diz que o momento em que a mulher procura ajuda é delicado e que essa mulher tem que se sentir confortável e bem acolhida. "Já ouvimos relatos em que as mulheres foram mal atendidas e desvalorizadas nas seções de atendimento à mulher nas delegacias comuns. Esse tipo de situação é inibidora e não pode acontecer. Os profissionais devem ter preparação para esse serviço", diz Leila.
A secretária Aparecida Gonçalves, entretanto, afirma que as prioridades do governo na destinação de recursos este ano foi para ampliação dos serviços especializados de proteção e atendimento àsmulheres, como a implementação de novas casas abrigo e centros de referência, o que não exclui a preparação de novos servidores. " Até 2015, a meta do governo é aumentar para 30% o número de municípios com acolhimento a mulheres violentadas", diz.
A necessidade de formação de novos profissionais ainda é uma das principais barreiras na ampliação dos serviços de atendimento à mulher. A coordenadora da Casa Abrigo do Distrito Federal, Karla Valente, alega que os recursos destinados à preparação e manutenção dos funcionários é insuficiente. "Atualmente, temos 44 servidores, desses, 17 são plantonistas. Se mantivermos outra casa, não teríamos servidores para trabalhar lá", diz.
SAIBA +
A psicóloga Karla Valente, que coordena a Casa Abrigo do Distrito Federal e também atende no Centro de Referência da Mulher, afirma que as pacientes geralmente são vítimas de violência psicológica.
"Nem sempre elas chegam com um olho roxo, com uma facada, alguma coisa nesse sentido, mas normalmente chegam com a autoestima muito baixa, porque já sofrem com a violência psicológica há anos", afirma a psicóloga.


Clipping Mulher
Secretaria de Políticas para Mulheres




quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Reunião da Rede da Mulher

Foi realizada, na última quinta-feira (13), no auditório do 29º Batalhão da Polícia Militar, a 7ª Reunião da Rede de Proteção à Mulher, com objetivo de articular, fortalecer e sensibilizar os integrantes da rede para o efetivo atendimento à mulher.
Na pauta, a apresentação do Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos – PAEFI – Mulher, cuja meta é prevenir, promover e assegurar os direitos das mulheres. O PAEFI oferta apoio, orientação e acompanhamento especializado a pessoas em situação de ameaça ou violação de direitos.
Os serviços foram apresentados pela equipe do CREAS (Centro de Referência Especializado da Assistência Social), que coordena o Núcleo da Mulher no município. Foram abordados temas como o funcionamento e os serviços oferecidos pelo CREAS, causas da violência contra a mulher e a importância de um trabalho conjunto para lidar com a questão.
Participaram do encontro, representantes das secretarias de Promoção Social, Saúde e Educação, do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher e da Polícia Militar, além da delegada Gisneia Ramires e da diretora regional da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (SEDESE), Elina Jurema Costa.
Na próxima reunião da rede, em data a ser definida, serão abordados os seguintes temas: fluxo de atendimento à mulher vítima de violência sexual e articulação e discussão de propostas para o atendimento a homens agressores.
O conceito de rede de enfrentamento à violência contra as mulheres diz respeito à atuação articulada entre instituições, serviços governamentais e não governamentais e a comunidade, visando ao desenvolvimento de estratégias efetivas de prevenção e de políticas que garantam o empoderamento das mulheres.
A primeira reunião da Rede de Atendimento e Proteção à Mulher de Poços de Caldas foi realizada em março de 2011. A rede fortalece a estrutura de atendimento. Conforme preconiza a Lei Maria da Penha, “a política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-governamentais”.

Disponível em:
www.pocosdecaldas.mg.gov.br

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Alicia Fernández: "Aprendizagem também é uma questão de gênero"

Para a psicopedagoga argentina, as dificuldades da criança em sala de aula têm relação com os papéis atribuídos a homens e mulheres

 ALICIA FERNANDEZ"  Não é permitido ao professor, por exemplo, agir com ternura, criatividade e sensibilidade".


Uma questão despertava a atenção da psicopedagoga argentina Alicia Fernández na década de 1980. A maioria dos casos relacionados a dificuldades escolares que chegavam ao consultório dela se dava com meninos e não com meninas.Um estudo realizado entre 1986 e 1989, com crianças e jovens menores de 14 anos, comprovou uma observação: 70% deles eram do sexo masculino. A constatação de que o cenário se repetia em outros países estimulou a investigação sobre o assunto. O resultado está no livro A Mulher Escondida na Professora, que discute o papel feminino na Educação. Com 63 anos, a diretora da Escola Psicopedagógica de Buenos Aires presta serviços de consultoria a instituições de formação em seu país e também no Uruguai, em Portugal, na Espanha e no Brasil. "Sinto que sou um pouco nômade", afirma. Atualmente, ela desenvolve pesquisas sobre hiperatividade e déficit de atenção na infância, problemas que cada vez mais são identificados, inclusive no Brasil.
Nesta entrevista, concedida à NOVA ESCOLA no Uruguai, Alicia explica que esses distúrbios são reflexos do comportamento da sociedade, permeado pelas questões de gênero, e não algo que aparece de forma espontânea e isolada em cada um dos alunos.

Por que relacionar as questões de gênero à aprendizagem?
ALICIA FERNÁNDEZ Percebi que a maioria das crianças que chegava para o atendimento psicopedagógico em meu consultório era de meninos. Achei que essa observação merecia uma pesquisa. Procurei estatísticas em outros países e constatei a mesma situação. Ainda hoje, de 75 a 80% dos pacientes encaminhados para o atendimento desse tipo são do sexo masculino.Para entender melhor a questão, comecei a analisar as famílias e percebi que em casa a figura feminina (mãe, avó, babá, irmã mais velha, tia etc.) era a responsável pelas primeiras descobertas dos pequenos.

Como a orientação feminina interfere na aprendizagem dos meninos? ALICIA Considerando que os humanos aprendem por identificação, é possível imaginar como é difícil para um garotinho ser ensinado por uma mulher a fazer xixi usando o vaso sanitário,por exemplo. Ela não é um modelo para ele porque não age da mesma maneira. Isso se repete na escola, onde a maioria é de professoras. Sempre queremos nos parecer com quem ensina e é por isso que para os meninos é mais complexo dar uma significação prazerosa ao conhecimento.

Como se explicam, então, os problemas escolares apresentados pelas meninas em sala de aula?
ALICIA Com as garotas, o caso é outro. As dificuldades delas ficam escondidas porque o modelo que se tem de bom aluno é aquele que não questiona, é quieto, obediente, passivo e caprichoso nas atividades. Elas, em geral, reúnem essas características e, por isso, são valorizadas. Esses critérios de avaliação são criados por mulheres, que não consideram as questões de gênero presentes na sociedade. Se esse processo fosse encabeçado por homens, a situação seria diferente porque eles levam em conta outras coisas, como a espontaneidade e a ousadia.Porém o problema não se resolveria se eles também não pensassem nessa dicotomia.

Quais as principais queixas em relação aos estudantes encaminhados aos consultórios psicopedagógicos? ALICIA Os meninos apresentam hiperatividade e as meninas são diagnosticadas com distúrbios de atenção - estão sempre dispersas e não se concentram. Ambos os casos levam à dificuldade de aprendizagem e são considerados questões de gênero. Quando falamos de crianças, o maior número de pacientes é do sexo masculino, mas a proporção se equipara quando nos referimos aos adolescentes. Isso acontece porque eles, de modo geral, questionam tudo e todos.É assim que constroem o seu pensamento. Se a garota foi reprimida na infância, podem se manifestar durante sua adolescência distúrbios como anorexia e bulimia. Ela não se permite comer para se satisfazer ou come e sente necessidade de vomitar. É como se não tivesse direito de se apropriar do alimento. Essa mesma lógica ocorre em relação ao conhecimento.

Cabe ao professor desenvolver um trabalho intencional sobre gêneros?
ALICIA Eu afirmaria que sim se não tivesse medo de isso se transformar numa técnica, ou seja, o educador falar sobre o assunto duas horas por semana e nada mais.O assunto é para ser trabalhado de maneira transversal, com constância, nas mais diferentes disciplinas.É preciso, por exemplo, corrigir alguns textos que se encontram nos livros de História, como: "Os egípcios moravam na beira do rio Nilo. Suas mulheres..." O texto não diz claramente que as mulheres são propriedade dos homens, mas sutilmente sugere que a palavra egípcios, no trecho, não se refere ao povo como um todo. Essas mensagens subliminares são profundas e perigosas, pois criam um modo de pensar. É necessário excluir isso das aulas.

Cite outras situações de preconceito em relação à mulher.
ALICIA Quando procuramos as palavras homem e mulher em dicionários espanhóis e brasileiros, encontramos embaixo da primeira a seguinte definição: "homem público, indivíduo que ocupa um alto cargo do Estado". Já mulher pública é definida como prostituta, meretriz. Isso está em publicações que, se supõe, falam de conceitos e não de mitos. A professora é uma pessoa pública, uma cientista, importante na vida da comunidade. Outro exemplo de problema relacionado ao gênero: as carreiras de caráter feminino demoram mais para serem reconhecidas. Isso acontece especificamente no Brasil com a Psicopedagogia, em que a maioria dos profissionais é mulher e - diferentemente do que ocorre na Argentina - ainda não é regulamentada.

Pesquisas indicam que muitos educadores atribuem dificuldades de aprendizagem dos alunos a uma condição social desfavorável.
ALICIA Não acredito nisso. Na Argentina, no sul da Patagônia, trabalhei com psicopedagogos e docentes numa comunidade indígena. Havia a idéia de que o povo que ali vivia não aprendia. Quando a história dessa comunidade começou a ser explorada, descobrimos que no passado os índios tinham muito conhecimento na área da saúde. Com isso, ficou claro que antes eles não aprendiam porque precisavam esconder suas origens e, assim, se adequarem aos nossos padrões. Alguns deles foram matriculados em escolas regulares argentinas e alcançaram notas altas nas avaliações, ficando entre os 10% com melhor desempenho dentro da capital federal. Esse exemplo comprova que se reconhecermos que, o outro é inteligente, independentemente
de raça, classe social e sexo, grande parte
das dificuldades deles desaparece.

Como as questões de gênero influenciam a profissão docente?
ALICIA Os sistemas educativos estão organizados conforme as sociedades patriarcais e, por isso, aspectos da singularidade dos gêneros são negados ou exibidos com excesso, quase como em uma caricatura.

Esses estereótipos prejudicam os docentes e, sem dúvida, os estudantes. O que o homem deixa de lado quando se dedica ao magistério?
ALICIA Às vezes, ele é o único dentro de um grupo grande de mulheres. Por isso, pesa sobre ele a responsabilidade do sexo masculino, ou seja, ele é visto como o grande pai. Quando é preciso chamar a atenção de um aluno, delegam essa função a ele - que não pode se constituir em um modelo de masculinidade como deseja. Não é permitido ao professor, por exemplo, agir com ternura, criatividade e sensibilidade. Se ele assume esse lado, vira motivo de chacota.

E a mulher, o que esconde? ALICIA As próprias idéias. Ela não discute opiniões e tem medo de publicar algo que escreveu. Não é à toa que 90% dos docentes são do sexo feminino e a quantidade de livros publicados por homens é muito maior.Na maioria dos países que pesquisei, cerca de 80% das publicações desse tipo são de homens.

Como mudar essa situação?
ALICIA Para que as mulheres se autorizem em público, é preciso que elas estejam dispostas a enfrentar quem não concorda com elas. Não é fácil. É necessário tempo para que isso aconteça, pois elas foram preparadas para estarem sempre sorridentes e submissas às imposições. Há trabalhos extraordinários que as professoras fazem e que deveriam se tornar públicos. Entretanto, elas não se animam a escrever suas experiências. Muitas dizem que são a única a pensar de forma diferente na escola. Então, pergunto: "Você já socializou suas idéias com colegas?" Geralmente a resposta é não.Nesse momento, digo que é possível existirem mais duas ou três que compartilham as mesmas opiniões e, juntas, elas poderiam ganhar força nesse questionamento.Por outro lado, há mulheres que quando querem se impor carregam na caricatura do sexo oposto. Elas são ouvidas, mas ficam com a imagem de agressivas e violentas. Esse não é um bom modelo nem para os alunos nem para a sociedade.

Essa falta de autoria tem a ver com as experiências na infância?
ALICIA Sim. A mulher que não se expõe é reflexo da menina que teve de esconder o que pensava, pois suas perguntas nunca eram consideradas apropriadas e as respostas sempre estavam incorretas. Com isso, deixou de questionar o mundo ao redor e passou a registrar tudo em um diário que ninguém pudesse ler. Essa é uma prática comum e exclusivamente feminina.Quando trabalho a psicopedagogia com adultas, proponho o resgate da garotinha que elas já foram um dia para que voltem a se permitir fazer perguntas, conhecer, descobrir e serem espontâneas. Defendo que nunca nos esqueçamos da criança e do adolescente que fomos no passado.

Como não minar o espírito infantil que há em cada aluno?
ALICIA Geralmente, na passagem da préescola para o 1o ano, parte das atividades comuns na Educação Infantil é deixada de lado para que se foque mais nos conteúdos escolares. Com isso, a mensagem passada é que a vida mudou e é necessário assumir afazeres mais importantes. Artistas, poetas, escritores e mesmo os cientistas - autores de grandes invenções para a humanidade - guardam a essência do brincar.Nenhum desses profissionais seria bem-sucedido se não tivesse viva a criança interior, que é questionadora. Os educadores podem ajudar a mudar muito a sociedade nesse sentido. Claro que é um trabalho demorado, mas é profundo porque ele está em contato com seres que são frágeis e aprendem por meio de referências.

De que maneira um mestre pode se tornar um modelo?
ALICIA Sempre nos lembramos daqueles que ensinavam com entusiasmo e dos que tinham senso de humor.Nunca nos remetemos a eles como alguém que lecionava bem. Quando se alfabetiza, por exemplo, se ensina o amor pela leitura e não só o ato de ler. Se o aluno aprende apenas a técnica, não vira um bom leitor. Quando um mestre desempenha sua função com esse grau de qualidade, deixa para trás qualquer problema relacionado à questão de gênero.


Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA
A Inteligência Aprisionada
, Alicia Fernández, 264 págs., Ed. Artmed, tel.0800-703-3444, 46 reais
A Mulher Escondida na Professora, Alicia Fernández, 182 págs., Ed. Artmed, 46 reais
O Saber em Jogo, Alicia Fernández, 184 págs., Ed.Ar tmed, 39 reais
Os Idiomas do Aprendente, Alicia Fernández, 224 págs., Ed. Artmed, 44 reais
Psicopedagogia em Psicodrama, Alicia Fernández, 208 págs., Ed. Vozes, tel.(21) 2233-9000, 32,10 reais

INTERNET
Acesse www.epsiba.com e leia em espanhol artigos de Alicia Fernández

Entrevista dada a revista Nova Escola disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/desenvolvimento-e-aprendizagem/aprendizagem-tambem-questao-genero-432236.shtml

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Lei Maria da Penha

Lei Maria da Penha: Seis anos de Conquistas e Desafios
De janeiro a julho já foram contabilizados 1.754 queixas
Maria Edjane Santos também foi vítima de violência em 2010
Para muitas pessoas a data 7 de agosto pode passar despercebida, mas para centenas de mulheres que já foram vítimas de algum tipo de violência doméstica, essa data significa muito. A Lei Federal 11.340 mais conhecida como Lei Maria da Penha, sancionada no dia 7 de agosto de 2006, alterou o Código Penal ao punir mais severamente agressores, que hoje podem ser presos em flagrante ou terem prisão preventiva decretada.
Uma vez constatada a violência doméstica, o juiz poderá aplicar ao agressor medidas de proteção da mulher, como suspensão ou restrição do porte de armas e afastamento do lar. O acusado também poderá ser proibido de manter contato ou se aproximar da mulher e de seus familiares e amigos.
Delegada do DAGV, Renata Abreu
A equipe do Portal Infonet conversou com a delegada do Departamento de Atendimento a Grupos Vulneráveis (DAGV) de Aracaju, Renata Abreu Aboim.  De acordo com a delegada, a princípio, a lei provocou um receio quanto a sua eficiência. “A lei chocou um pouco assim que entrou em vigor porque ela veio para endurecer a forma de tratar os casos de violência doméstica e muitas situações que não era possível o agressor ser preso, começaram a surgir. Muita gente não acreditava que estava sendo preso, às vezes só por apenas xingar a companheira, isso com a lei Maria da Penha começou a ser possível”, afirma a delegada.
Ela fala ainda sobre os ganhos com a nova lei. “O ganho maior que eu vejo é exatamente de ver as mulheres mais firmes, mais decididas em denunciar e levar o caso para frente porque infelizmente eu não vejo como a lei vai diminuir os casos, como o homem vai deixar de ser agressivo por conta da lei, acho que essa realidade só muda com a educação”, acredita.
Dados estatísticos do DAGV, apontam que de janeiro a julho deste ano já foram contabilizados 1.754 queixas no departamento, sendo uma média de 250 por mês. Quanto ao número de inquéritos policiais impetrados, somente em 2011 foram 949. Já em 2012, até o momento existem cerca de 700 inquéritos policiais.
Aslane Maria faleceu após ter 80% do corpo queimado. O acusado é o companheiro
Esses dados revelam, segundo Renata Abreu, que um maior número de vítimas estão tendo interesse em que o caso seja encaminhado à justiça. “Elas estão tendo mais interesse em mandar para a justiça, porque antes elas vinham, faziam a denúncia e não apareciam mais. Muitas delas desistem, mas depois que a gente instala o inquérito policial não pode mais desistir, a gente encaminha para a justiça”, revela.
Além de Aracaju, o município de Nossa Senhora do Socorro possui o Centro de Atendimento a Grupo Vulneráveis e em alguns municípios existem as Delegacias Especializadas da Mulher a exemplo de Itabaiana, Estância, Lagarto e Nossa Senhora da Glória. Quanto ao quantitativo de delegacia necessário no interior do estado, a delegada é enfática. “Para criar uma estrutura tem que ter uma demanda necessária, porque vai ter um gasto com prédio, com servidores. Então tem que fazer uma análise criteriosa nesse sentido, agora acredito que nos lugares mais importantes hoje, se tem delegacias especializadas, ou seja, são os municípios maiores e que tem uma demanda considerável e que realmente fazia necessário uma delegacia especializada”, reforça.
Vítimas
Defensora Elvira Lorenza
Por inúmeras vezes, o Portal Infonet vem noticiando casos de mulheres vítimas de violência. Uma delas foi a jovem Aslane Maria da Silva, de 20 anos, que estava internada no Hospital de Urgência de Sergipe (Huse) desde o dia 5 de maio deste ano, vítima de queimadura, mas veio a óbito no dia 29 de julho. A jovem teve 80% do corpo queimado pelo próprio marido dentro da residência do casal, localizada no loteamento Guajará em Nossa Senhora do Socorro.
O avô de Aslane, José Francisco dos Santos, pede justiça. “Infelizmente a gente tem que se conformar. Não podemos fazer mais nada, só pedir a deus por que a coloque em um bom lugar. E mesmo  assim queremos justiça”, pede.
Outra vítima de violência foi Maria Edjane dos Santos, mãe de 4 filhos. A mulher foi abusada sexualmente em abril de 2010, por um homem identificado como Junior que ainda a espancou durante o ato sexual.
Defensoria
Mulheres vítimas de violência doméstica também buscam auxílio na Defensoria Pública de Sergipe. Muitas delas procuram para dar entrada no pedido de guarda dos filhos ou de divórcio. As denúncias podem ser feitas no Fórum Gumerssindo Bessa, onde funciona a 11ª Vara Criminal, no turno da manhã. E no Núcleo da Defensoria no turno da tarde.
Somente de janeiro até o dia 3 de agosto de 2012, foram feitos 321 atendimentos no Núcleo Especializado de Defesa da Mulher (Nudem) e mais 98 atendimentos no Fórum. Já em andamento na 11ª Vara Criminal foram ajuizados 1.564 processos, dos quais 1.078 são relacionados à Lei Maria da Penha.
De acordo com a coordenadora do Núcleo Especializado de Defesa da Mulher (Nudem), a defensora Elvira Lorenza, apesar do número considerável de procedimentos, muitas delas desistem de ir em frente com a ação. “Elas comparecem para ajuizar uma ação, a gente solicita os documentos e muitas delas saem pra pegar e não voltam mais. Outras, assim que sofrem a agressão quer a todo custo ser atendida, a gente toma as medidas necessárias e ela chega e desiste. Quando ela se reconcilia, poucas são as que vem pra dizer que se reconciliou,  a grande maioria muda de endereço e não comunica, aí o processo acaba morrendo porque não temos como cumprir o despacho”, explica a defensora.
Outro desafio enfrentado por algumas vítimas se referem as próprias vítimas se sentirem incapazes de sobreviver sem o auxílio do companheiro. "Apesar dela querer denunciar, quando chega a realidade de ter que enfrentar a vida sozinha, muitas vezes elas voltam e se acomodam. Muitas delas porque não tem coragem de ir a luta", diz a defensora Elvira. Com isso, muitas preferem o tradicional discurso "Ruim com ele, pior sem ele' ou como acrescenta a defensora "Minha mãe apanhou, minha avó apanhou, porque eu não aguento?".
Apesar das conquistas e dos desafios pela frente, mulheres que sofreram na pele algum tipo de violência, se reunirão em um encontro a ser realizado pelo Nudem, na próxima quarta-feira, dia 8 de agosto, com o objetivo de receber orientação quanto aos direitos e possam trocar experiências.
Por Aisla Vasconcelos

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Polícia britânica pede desculpas por cartaz sobre estupro

BBC 03/08/2012 05h57 - Atualizado em 03/08/2012 07h13

Polícia britânica pede desculpas por cartaz sobre estupro

Segundo ONG, campanha dava a entender que, ao frequentar festas e beber, vítimas teriam responsabilidade nos abusos.

Da BBC
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Polícia britânica pede desculpas por cartaz sobre estupro (Foto: BBC)Polícia britânica pede desculpas por cartaz sobre
estupro; texto diz: 'Não deixe uma noite cheia de
promessas se transformar em uma manhã cheia
de arrependimento (Foto: BBC)
A polícia inglesa pediu desculpas por uma campanha anti-estupro que ativistas classificaram como 'inapropriada'.
Segundo a ONG Centro de Apoio às Vítimas de Estupro e Abuso Sexual de Worcestershire, a campanha 'Uma Noite Segura', da polícia da região de West Mercia, culpava vítimas que haviam bebido por casos de agressão sexual.
'Não é o álcool que causa estupro, embora ele seja um fator de vulnerabilidade. Os estupradores são os responsáveis pelo estupro', disse Jocelyn Anderson, representante da ONG.
O cartaz da campanha foi distribuído por bares da região em julho. Ele mostra uma mulher divertindo-se em uma festa e logo em seguida caída no chão, em aparente sofrimento. 'Não deixe uma noite cheia de promessas terminar em uma noite cheia de arrependimento', diz.
'Se a campanha causou angústia, esse não era o nosso objetivo, então peço desculpas por isso. Seu objetivo não era culpar as vítimas, mas difundir informações que possam ajudar', disse o representante da polícia de West Mercia Ivan Powell.
'Entendo algumas preocupações sobre a natureza do cartaz, mas gostaria de sublinhar que estávamos tentando dar informação para as potenciais vítimas sobre como elas podem evitar tornar-se vulneráveis.'
Segundo Anderson, o problema é que o cartaz sugere que se não beberem as mulheres podem evitar o estupro. 'Eu acho ótimo que a polícia tenha percebido que estava passando uma mensagem errada e admitiu que estava errada.'
No ano passado, um movimento de protesto ganhou as ruas de vários países após um policial de Toronto, no Canadá, ter sugerido que as estudantes do sexo feminino deveriam evitar se vestir como 'vagabundas' para não serem vítimas de assédio sexual.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Reunião da Rede de Proteção à Mulher


 
Pauta:

  • Apresentação da Delegacia da Mulher;
  • Apresentação do Projeto da Policia Militar ( Violência Doméstica);
  • Aplicação lei 11.340/06 “Maria da Penha” para homens;
  • Definição do calendário das próximas reuniões da Rede da Mulher.
No dia 11 de julho de 2012, as 14 horas
 acontecerá a
6ª Reunião da Rede de Proteção à Mulher”,
no Centro de Referência Especializado de Assitência Social (CREAS)
com o objetivo de articular, fortalecer e sensibilizar essa “Rede”
para o efetivo atendimento à mulher.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

As mulheres que sofrem de violência doméstica podem usar uma ferramenta importante contra as agressões: a central de atendimento do governo federal.

Para obter ajuda via telefone, a vítima pode discar o número 180.

De acordo com Secretaria Nacional de Política para as Mulheres, o atendimento, feito por 160 atendentes – todas mulheres – é concentrado em Brasília (DF).
Mesmo assim, a central possui um banco de dados com delegacias, juizados e hospitais de todo o país. Todas as funcionárias são treinadas e instruídas sobre a lei Maria da Penha (11.340/06) e sobre violência doméstica.